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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Justiça: TJS´P 140 anos- Tradição e modernidade no caminho da Justiça

Texto: Maria Lúcia Zanelli, Diário Oficial do Estado, 4 de fevereiro de 2014

Palácio da Justiça, Praça da Sé, s/nº


Sustentabilidade, produtividade, foco na ação social, cidadania e ética são os pilares que norteiam a instituição

Os novos tempos chegaram no Tribunal de Justiça de São Paulo. Ao completar 140 anos de existência, a instituição celebrou pela primeira vez o seu aniversário e a posse do Conselho Superior de Magistratura (CSM) com uma atividade cultural. O pianista João Carlos Martins e a Orquestra Bachiana Filarmônica Sesi-SP celebraram este momento histórico com um concerto na Sala São Paulo, no dia 3 de fevereiro, em uma sala completamente lotada.
“O trabalho da Justiça é comparado a uma orquestra. Há necessidade de harmonia entre todos os membros para que o concerto continue. É assim, na Justiça, todos os operadores do Direito devem estar trabalhando de maneira harmoniosa para que a Justiça seja feita,” explica o presidente do TJSP, o desembargador José Renato Nalini.
“É uma honra tocar para comemorar os 140 anos de uma instituição tão respeitável como o Tribunal de Justiça, uma casa que além de desembargadores, possui dois poetas e imortais, o Nalini e o Paulo Bomfim”, diz. 
O TJSP vem aliando tradição à modernidade para traçar a Justiça. Sustentabilidade, produtividade, foco na ação social, cidadania e ética são os pilares que norteiam a instituição.
“Nestes 140 anos de existência do TJSP, o Conselho Superior da Magistratura optou pela singeleza. Um lema que nos inspira é a economia de palavras, compensada por incremento de ação”. Nalini salienta a produtividade como meta. “Produtividade, nesta era, significa eficiência. Responder à pretensão de forma objetiva e célere é o dever de todos nós, servidores da população. Ela confia no Judiciário e o procura, insistente e incessantemente, para solucionar as questões que a afligem.”

Meio ambiente - Em dezembro de 2013, foi lançado o Projeto Petição 10, Sentença 10. O projeto, idealizado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, propõe limitar a extensão de petições e sentenças a dez páginas para proporcionar maior rapidez processual e incentivar a consciência ecológica.
Nalini explicou que esse projeto, no TJSP, é um primeiro passo a ser dado para mudar a cultura da escrita, muito presente entre os operadores do direito no Brasil. “Espero que este seja apenas um passo inicial para uma mudança de mentalidade, incentivando as pessoas a serem mais econômicas.” Ele salienta que é preciso concisão. “Simplificar não só as petições, mas as contrarrazões, sentenças e acórdãos, pois o Judiciário talvez seja o Poder mais antiecológico do País”.
Além de dar maior celeridade ao Poder Judiciário, o projeto ‘Petição 10, Sentença 10’ busca também diminuir o impacto ambiental no uso do papel, material mais consumido e o resíduo de maior descarte nas atividades jurídicas. Para se ter uma ideia desse impacto, na produção de uma tonelada de papel são consumidas de duas a três toneladas de madeira. Para a produção de um quilo do mesmo material, são necessários 540 litros de água.

Hall dos Passos Perdidos, Palácio da Justiça, SP



Tecnologia – A eliminação do papel é uma preocupação do Judiciário. São 20 milhões de processos em andamento no Estado de São Paulo. Para isso, o TJSP implantou, no dia 30 de janeiro, o projeto-piloto que vai ajudar na eliminação do uso do papel na tramitação das ordens judiciais: o SerasaJud. A nova ferramenta digital de trabalho faz parte de um convênio firmado com a Serasa Experian para obter informações da base de dados cadastrais da empresa e reduzir o tempo de tramitação dos processos judiciais.
Com a novidade, o Judiciário utilizará certificados digitais para acesso ao sistema e garantirá agilidade, economia e segurança às informações. Para atender ao objetivo de celeridade processual pretendida pelo convênio, a ideia é que as solicitações enviadas pelo Tribunal sejam cumpridas em até 48 horas pela empresa.
 Inicialmente, o projeto será direcionado aos magistrados e servidores das 45 varas cíveis do Fórum João Mendes e das duas varas do Juizado Especial Cível Central. Gradativamente, será expandido para todo o Estado.
Frontão do Palácio da Justiça, SP

Ética - Os magistrados de São Paulo têm agora um Comitê de Ética. Criado por iniciativa do presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador José Renato Nalini, o Comitê vai responder questões enviadas por juízes que entendam necessário ouvir colegas experientes em casos concretos “para sua autônoma e melhor deliberação”.Integram o Comitê os desembargadores Antonio Carlos Villen e Ricardo Cintra Torres de Carvalho e o juiz Álvaro Luiz Valery Mirra, conforme a Portaria 8922/2014. Nalini avalia que “hoje a sociedade está sofrendo um declínio de valores. Há urgência ética, o juiz não tem com quem conversar. Havendo Comitê, o juiz terá a quem recorrer.”Nenhum tribunal do Brasil tem um Comitê de Ética”,salienta.

Desembargador José Renato Nalini, presidente do TJSP - biênio 2014/2015

    
Ação Social e Cidadania – Criado em setembro de 2012, o Comitê de Ação Social e Cidadania (CASC) foi criado pelo Tribunal de Justiça de SP. Sua primeira campanha “Doar é Legal – A Vida é Recarregável”, a instituição, por meio do CASC, tem o objetivo de unir servidores e magistrados em prol da solidariedade. ”É uma forma diferente de atuação da Justiça. A população percebe que, atrás dos processos, existem pessoas preocupadas com seus semelhantes e a Justiça se aproxima dos cidadãos”, diz Ana Ana Raquel Orlando, coordenadora do CASC.
A campanha “Doar é Legal – a vida é recarregável” conseguiu cadastrar 6,4 mil em 2013.
Outras campanhas vieram nos anos seguintes como a doação de brinquedos; Natal Solidário; doação de sangue; Páscoa Feliz; SOS Cubatão; Livro Infantil; Dia da Criança; SOS Taquarituba; Natal sem fome; Divulgação na comunidade de Heliópolis da cartilha da Lei  Maria da Penha; e o SOS Itaoca.
                                     


Conselho Superior da Magistratura – Biênio 2014/2015

Composto por sete desembargadores, seis deles eleitos pelo Tribunal Pleno para um mandato de dois anos: o presidente da Corte, o vice-presidente, o corregedor-geral da Justiça e os presidentes das Seções de Direito Privado, Público e Criminal, além do decano, cargo atualmente ocupado pelo desembargador José Gaspar Gonzaga Franceschini.
O CSM é responsável por assuntos referentes aos integrantes do Judiciário paulista e algumas de suas atribuições são apreciar as suspeições por motivo de foro íntimo de juiz de primeiro grau, aprovar o quadro geral de antiguidade dos magistrados e decidir as respectivas reclamações, além de julgar recursos referentes à inscrição de candidatos ao concurso de ingresso na magistratura.

Presidente – desembargador José Renato Nalini
Vice-Presidente – desembargador Eros Piceli
Corregedor-Geral da Justiça – desembargador Hamilton Elliot Akel
Decano – desembargador José Gaspar Gonzaga Franceschini
Presidente da Seção de Direito Privado – desembargador Artur Marques da Silva Filho
Presidente da Seção de Direito Público – desembargador Ricardo Mair Anafe
Presidente da Seção de Direito Criminal – desembargador Geraldo Pinheiro Franco


História

O Tribunal de Justiça de São Paulo foi instalado em 3 de fevereiro de 1874, à época denominado Tribunal da Relação de São Paulo e Paraná. Em 1891 houve a separação judiciária das duas províncias. Com isso surgiu o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, sediado no Palácio da Justiça. Inspirado no homônimo de Roma, o prédio, de estilo neoclássico, é obra do escritório de arquitetura de Ramos de Azevedo. A edificação foi inaugurada em duas datas distintas, nos anos de 1933 e 1942, quando foi concluído o 5º pavimento, sendo tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) em 1981.
       

Dois destinos, um caminho

Há 54 anos, Jair Victor Muniz é funcionário do Tribunal de Justiça de São Paulo. Aos 67 anos, ele fala com carinho sobre a trajetória que o levou para o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. “Comecei aqui, em 1960, servindo café para um juiz. Hoje, sou coordenador e contador do SPI-3 – Secretaria de Pesquisa Institucional. Jair assistiu às transformações que o Tribunal de Justiça de São Paulo e seu departamento passaram. “Era um processo complexo, calculávamos, rascunhávamos e, finalmente, inseríamos os dados nos processos”, explica. Um cálculo para ser inserido demorava meses, chegando a seis meses de atraso. “Muitas vezes, realizamos mutirões para colocar a casa em dia. Com a informática, nosso serviço ficou mais rápido e facilitou a nossa vida. O nosso departamento desenvolveu diversos programas de cálculos para computadores, o que facilitou a vida de todos os funcionários e contadores do departamento.”
Um velho ditado diz que coincidência não existe. A mais nova funcionária do Tribunal de Justiça de São Paulo aniversaria na mesma data da fundação da instituição: 3 de fevereiro. Kelly Cristina da Silva está na instituição há cinco dias e já faz planos para o futuro: quer estudar Direito na Faculdade de Direito da USP, a São Francisco, ou San Fran para os mais íntimos. Formada em Letras pela USP, a professora Kelly Cristina da Silva queria dar um rumo diferente na sua vida. “Queria estudar Direito, mas, por causa da situação financeira, eu não conseguia. Resolvi prestar diversos concursos. Até que prestei o do Tribunal de Justiça de São Paulo e entrei. Estou feliz por trabalhar nesta instituição centenária”.

Zanelli entrevista o poeta Paulo Bomfim
 Paulo Bomfim – O príncipe dos poetas paulistas

Querido pelos colegas e admirado no meio literário, Paulo Bomfim é o poeta do Tribunal de Justiça de São Paulo. Decano da Academia Paulista de Letras, Paulo Bomfim tem uma estreita e carinhosa relação com o TJSP. Seu pai, doutor Simeão Bomfim, era médico de Ricardo Severo, um dos responsáveis pela construção do Palácio da Justiça. “Eu tinha cinco anos e acompanhava meu pai para ver o andamento da obra. Na época, eu não imaginava que um dia trabalharia nesta casa e teria um espaço cultural com meu nome”, diz orgulhoso, aos 87 anos. Há aproximadamente 40 anos, desempenha funções junto ao TJSP. Atualmente, o poeta Paulo Bomfim é chefe de gabinete do presidente do TJSP, José Renato Nalini.
“Tenho um presente para esta casa e para a sociedade paulista. Estou doando, todo o meu acervo pessoal para o TJSP. É uma maneira carinhosa que tenho de mostrar um pouco da minha história e de São Paulo”. A sala 294, localizada no 2º pavimento do Palácio da Justiça, leva o nome do poeta e possui diversos documentos, quadros, livros e comendas de Paulo Bomfin e alguns objetos do Movimento Constitucionalista de 1932.

 Raio-x da Instituição

Um dos maiores tribunais do mundo, o TJSP apresenta números respeitáveis: 20 milhões de processos em andamento, 360 desembargadores, 45 mil servidores ativos, 10 mil funcionários terceirizados e orçamento de quase R$ 7 bilhões, superior ao de unidades da federação


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